15/04/2020

Capacidade de tratamento intensivo: o número a ser observado durante a batalha contra a COVID-19.

Desde a explosão da COVID-19, a maioria dos países vem adotando medidas de saúde pública para “achatar a curva” e aceitando a retração econômica simultânea. Porém, há outro número a que todos devem estar atentos agora: a capacidade dos hospitais de prestar tratamento intensivo em unidades de terapia intensiva (UTI) com respiradores. Essa é a métrica que indica se os sistemas hospitalares ficarão sobrecarregados.
Todos os dias, o mundo observa o número de casos de COVID-19 subir e pergunta: “Já começou a diminuir?”Porém, há outro número a que todos devem estar atentos agora: a capacidade dos hospitais de prestar tratamento intensivo em unidades de terapia intensiva (UTI) com respiradores. Essa é a métrica que indica se os sistemas hospitalares ficarão sobrecarregados. Esse é o motivo de “achatar a curva”, porque, sem capacidade extra, mais vidas serão perdidas.

Para proteger nossa vida, a capacidade de tratamento intensivo deve ser aumentada dentro de semanas, não de meses. Embora alguns países e regiões tenham mais capacidade do que outros, todos precisam de capacidade extra. O custo quase não importa, já que, para cada mês que os sistemas de saúde se mantêm à frente do pico de pacientes com necessidade de tratamento intensivo, salvamos vidas e poupamos um trilhão de dólares de PIB.

Em quanto devemos aumentar a capacidade? Depende do ponto de partida de cada país, mas, na maioria dos casos, em quatro a cinco vezes. Esse aumento é possível e faz parte do foco da resposta de saúde no mundo inteiro. Contudo, sugerimos enfaticamente aos líderes da área de saúde que coloquem isto no topo de sua lista de prioridades e da de seus colegas: passem a observar a capacidade de tratamento intensivo.

Abaixo, descrevemos a necessidade e as possíveis ações para aumentar a capacidade de tratamento intensivo.

Desde a explosão da COVID-19, a maioria dos países vem adotando medidas de saúde pública para “achatar a curva” e aceitando a retração econômica simultânea. Embora a eficácia das diferentes abordagens possa ser debatida, essas medidas têm sido essenciais para obter controle sobre o crescimento da pandemia.

O inédito aumento do desemprego nos EUA ocorrido nos últimos dias também é um presságio do sofrimento humano decorrente das turbulências econômicas. Como observamos anteriormente este mês, o vírus pode custar à economia mundial de US$ 1 trilhão a US$ 1,5 trilhão apenas no segundo trimestre de 2020. Nos Estados Unidos, cada quatro semanas de paralisação podem custar à economia cerca de US$ 200 bilhões de PIB1 . Em particular, quem trabalha nos setores de viagens, restaurantes e transportes está em risco, assim como uma grande proporção das famílias do mundo todo. Mesmo em economias avançadas, como os Estados Unidos, 25% das famílias vivem de salários, e 40% dos norte-americanos não conseguem cobrir uma despesa inesperada de US$ 400 sem pedir empréstimo.

Já começou a corrida para aumentar a capacidade de tratamento intensivo. A ampliação da capacidade dos sistemas de saúde é vital para salvar vidas, pois um sistema sobrecarregado resulta em um aumento substancial do índice de mortalidade e pode retardar nossa volta à normalidade (Quadro 1).

As duas questões principais agora são as seguintes: o que controlamos? No que devemos nos concentrar?

Aumentar a capacidade dos sistemas de saúde à velocidade da luz

A capacidade de tratamento intensivo corresponde a UTIs, suprimentos hospitalares necessários e unidades de respirador para pacientes, além de uma força de trabalho treinada e que tenha aquilo de que necessita para realizar seu trabalho. Apesar de algumas das seguintes ações já estarem em andamento, convém que os líderes considerem as medidas a seguir, tomadas em conjunto:

  • Interromper todo o atendimento não emergencial nos hospitais e em outros locais de atendimento, o que liberaria, quase imediatamente, até 30% da capacidade de leitos e de profissionais de saúde e parte da capacidade de respiradores e de equipamentos de proteção individual (EPIs). Muitos países do mundo todo já fizeram isso.
  • Aumentar os suprimentos essenciais – como EPIs, respiradores – para manter as instalações atuais totalmente funcionais e manter os profissionais de saúde protegidos. Veja, no Quadro 2 abaixo, medidas que podemos tomar agora e que são capazes de ampliar os suprimentos disponíveis em seis a oito semanas.
  • Treinar mais funcionários da linha de frente (por exemplo, enfermeiros treinados em tratamento com respiradores mecânicos) para permitir a ampliação da capacidade. Na Ásia e na Itália foram desenvolvidos currículos para capacitar profissionais de saúde em questão de dias. Convém aos serviços de saúde independentes de todos os países implementar planos semelhantes para aumentar a força de trabalho.
  • Criar capacidade hospitalar alternativa (por exemplo, hospitais de campanha, converter instalações ambulatoriais em instalações para quadros agudos, converter instalações não de saúde em instalações para quadros agudos – hotéis, dormitórios). Hospitais temporários foram construídos em questão de semanas na China, no começo do ano, quando o país estava enfrentando o maior aumento do número de pacientes. Com a ajuda do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos e da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) e com a mobilização das forças armadas em ritmo de guerra, é provável que os Estados Unidos consigam desenvolver a capacidade necessária de leitos em ondas dentro de seis semanas. Trata-se de instalações que, em período de normalidade, não seriam consideradas hospitais, mas que, em uma situação extrema, podem atender às necessidades da população afetada.
  • Ativar a capacidade estratégica de saúde em sistemas de saúde militares ou outros sistemas de saúde de defesa em todo o mundo.
  • Acelerar a aprovação de tratamentos, bem como a ampliação da fabricação e distribuição dos tratamentos que reduzem a gravidade da doença ou a duração da necessidade de tratamento intensivo, diminuindo, assim, o tempo de internação.

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Diminuir a demanda de tratamento intensivo

A maioria dos países e estados/províncias implementou medidas de saúde pública para retardar a propagação do vírus (por exemplo, distanciamento físico, confinamento, fechamento de áreas públicas, como praias e quadras de esportes). Como não há vacina ou tratamento profilático à vista, o risco de recrudescimento da propagação continua real. Ao mesmo tempo, dado o grande impacto dessas medidas de saúde pública no meio de subsistência das pessoas, todos os líderes estão buscando um equilíbrio na gestão do crescimento da demanda de tratamento intensivo, ao mesmo tempo em que atenuam a forte retração da atividade econômica. Algumas ações podem ser cruciais para atingir esses objetivos duplos:

  • Alcançar o máximo impacto de achatamento da curva com as medidas de saúde pública já implementadas (que causaram a forte retração econômica). Embora normas sociais e sistemas políticos variem no mundo todo, a aplicação mais rígida de medidas de distanciamento fará com que elas sejam mais eficazes e possam ser suspensas mais rapidamente. Diversos países vêm usando a tecnologia de maneira eficaz para promover um distanciamento físico efetivo (por exemplo, o uso de senhas por telefone para minimizar o congestionamento nos supermercados). Criar incentivos sociais e econômicos para quem está em quarentena, incluindo, possivelmente, entrega de alimentos financiada pela comunidade, garantias de renda, soluções para as necessidades de fornecimento de tratamento e garantias de estabilidade no emprego.
  • Aumentar exponencialmente a capacidade de realização de exames e a capacidade de rastreamento de contatos. Embora, no momento, alguns países tenham casos demais para rastrear todos os contatos, a capacidade de fazer exames rapidamente e isolar as pessoas com maior risco de infectar outras ajudará a conter um recrudescimento futuro dos casos. No que diz respeito aos países com poucos casos até agora, a realização rigorosa de exames pode impedir que a propagação atinja o ponto em que a capacidade de tratamento intensivo fique sobrecarregada. Os exames em massa nos primeiros focos, como a Coreia do Sul, e medidas como triagem por temperatura, exames e rastreamento de contatos, implementadas em Singapura, são exemplos dessas abordagens.

Passe a observar a capacidade de tratamento intensivo. A divulgação de informações está melhorando. Incentivamos os líderes a ajudar a aumentar a capacidade de tratamento intensivo, na medida do possível. Esperamos que isso salve vidas e meios de sobrevivência, sobretudo para os membros mais vulneráveis de nossa sociedade. Isso é viável!

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Sobre o(s) autor(es)

Shubham Singhal, sócio sênior no escritório de Detroit, é o líder global da Prática de Saúde da McKinsey. Patrick Finn é sócio sênior no escritório de Detroit. A Dra. Pooja Kumar é sócia no escritório de Boston. O Dr. Matt Craven é sócio no escritório do Vale do Silício. Sven Smit é sócio sênior da McKinsey no escritório de Amsterdã e copresidente e diretor do McKinsey Global Institute.

 

link da matéria: https://www.mckinsey.com.br/our-insights/critical-care-capacity-the-number-to-watch-during-the-battle-of-covid-19

 

Autor: Por Shubham Singhal, Patrick Finn, Pooja Kumar, Matt Craven, e Sven Smit FONTE: McKinsey

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